segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O Século da Imagem

O Século da Imagem
O século XX extingui-se, deixando esquecidas as profecias desenterradas das trevas do terror do final do primeiro milénio. O mundo não acabou, e, apenas ficou para traz um século profícuo no capítulo das artes visuais. Digo isto, considerando o ascendente da imagem, e a maneira como esta monopolizou a comunicação. É por isso que este século deveria ser chamado «O Século da Imagem».
Dizendo isto não pretendo significar mais senão isto. As outras formas de expressão não se lhe subalternizam, são apenas diferentes, muitas vezes fundem-se em obras de síntese, e, quando falo da imagem não me refiro apenas à que advém do universo «erudito», mas de todos outros meios, cinema, televisão, publicidade e artes gráficas, meios informáticos, onde pontifica, e não só pela actualidade, a Internet.
E, a propósito de tecnologia, é imperativo mencionar que esta desempenhou e desempenha um papel de relevo. Basta reparar que a invenção da fotografia, ainda no século XIX, ao invés de suscitar uma concorrência relativamente às artes plásticas, contribuiu de modo decisivo para a autonomia de ambas, notando-se que este aspecto decorre do final da pintura naturalista e da necessidade da burguesia se afirmar na busca da sua imagem.
O anterior aspecto referido da evolução tecnológica, terá a importância de facilitar a realização da obra plástica, e destaco a importância da evolução da industria química, no desenvolvimento da fabricação de corantes sintéticos e do desenvolvimento dos polímeros, tendo os artistas à disposição novos produtos, o que terá um incontestável utilidade na criação artística.
Outro aspecto que determina o século XX, é relativo ao social: o papel da mulher no mundo das artes, não mais como fonte de inspiração, mas como interveniente no processo artístico.
Mas o aspecto que creio mais protuberante nas artes plásticas do século XX, que infelizmente creio em crise, é a sua autonomia formal, e independência, a sua assunção como fonte de conhecimento, isto é, a arte ter assumido o questionar dos aspectos substantivos do Universo, de modo nunca antes visto, e de forma tão vincada.
No aspecto estilístico, o século XX, assistiu ao desenvolvimento de uma multiplicidade de correntes artísticas, de modo nunca até então possível, e que se propagaram na cena internacional, sendo por isso possível afirmar que nos primórdios do abstraccionismo, um pintor português, Amadeo de Souza Cardoso, disputa a sua invenção.
Assistiremos até aos anos 80, a uma grande capacidade dos artistas em se exprimirem e se explanarem em correntes diversas, sendo que os últimos anos do século anunciam o fim dos «ismos» do mesmo modo que «alguém» pretende que chegaram ao fim as ideologias.
Regressaria a arte ao conformismo do «ancient règime»? A um formalismo barroco, ao alheamento do real, contando apenas o objecto artístico com o seu aspecto mercantil de objecto fabricado no universo dos objectos de consumo?
Ao ser assim, esvaziaria um percurso de mais de cem anos de pesquisa protagonizado por tantos artistas, dos quais destaco, pois terá sido o homem que mais experimentações levou a cabo, e que não se dissociou da realidade social, Picasso.
No Século da Imagem, é de Picasso a imagem que escolho como «Imagem do Século» - Guernica , que não terá sido o Massacre do Século, mas que o prenuncia.

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