sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Poema de Natal

POSTAL DE NATAL DE UMA PUTA EM MINNEAPOLIS


Olá Charley, estou grávida
E a viver na rua 9
Mesmo por cima de uma livraria nojenta
à beira de Euclid Avenue
Deixei de meter droga
E parei de beber whiskey
O meu homem toca trombone
E trabalha no caminho de ferro

Ele diz que gosta de mim
Ainda que o bebé não seja dele
Diz que o vai criar como a um verdadeiro filho
Ofereceu-me um anel que a mãe costumava usar
E sai comigo pra dançar
Todos os sábados à noite

E Charley, penso sempre em ti
Todas as vezes que passo numa bomba de gasolina
Por causa da brilhantina que usavas o cabelo
E ainda tenho aquele disco de Little Anthony e os Imperials
Mas roubaram-me o gira-disco
O que é que se há-de fazer?...

Olha Charley, quase dei em doida
Quando o Mário foi de cana
Por isso voltei para Omaha
Para viver com os meus velhos
Mas toda a gente que conhecia
Ou morreu ou estava presa
Então voltei para Minneapolis
E desta vez penso que vou ficar por cá

Sabes Charley, pela primeira vez desde o acidente
Parece-me que sou feliz
Só queria ter agora todo o dinheiro
Que costumávamos gastar em droga
Comprava um parque de carros usados
E não vendia nenhum
Para usar um diferente em cada dia
A condizer com a maneira como me sentiste

Oh Charley, por amor de Deus,
Queres saber toda a verdade?
Não tenho nenhum marido
Ele não toca trombone
E preciso de dinheiro emprestado
para pagar ao advogado
E olha Charley, devo sair com pena suspensa
No dia de S. Valentim.

Tom Waits